Toda a riqueza e o conforto de que dispunha não
faziam daquela jovem princesa uma pessoa plenamente feliz. Faltava-lhe algo!
Havia um imenso e angustiante vazio em sua vida.
Aflita, a herdeira do trono mandou chamar um
ancião, conhecido por sua sapiência. Confessou-lhe a sua inquietação e
rogou-lhe ajuda.
O velho sábio, afagando os cabelos da jovem,
sorriu e lhe falou:
Está bem, Alteza, daqui a três luas nascerá no
jardim, ao amanhecer, a mais bela flor que os seus verdes olhos já viram...
Será uma rosa encantada que trará em si a beleza,
o perfume e o encantamento que lhe darão a alegria de que sentis tanta falta.
A jovem sorriu, agradecida.
Mas o velho advertiu: Tende cuidado! A flor é sua
e cabe-lhe o dever de cuidar dela... Caso contrário, perder-se-á a flor...
Perder-se-á o encanto!
A jovem aguardava, ansiosa, o momento de conhecer
a flor encantada...
Todos os dias ela ia até o jardim, para ver se já
não teria nascido a sua rosa... Entretanto, encontrava apenas as flores comuns.
Mas, na data prevista, aos primeiros raios do
amanhecer, fez-se um burburinho no jardim, bem sob a janela da jovem princesa.
Ela, irritada, levantou-se e foi à sacada para
pedir silêncio. Mas, ao abrir a janela, viu, em meio à grama, o motivo do
falatório: uma flor como jamais houvera antes naquelas paisagens!
Era realmente uma flor sem igual! Não se
assemelhava às outras, em nada: nem no tamanho, nem na cor, nem no aveludado de
suas pétalas, nem em seu perfume...
A jovem vestiu-se às pressas e desceu as escadarias
a passos rápidos.
Atirou-se de joelhos na grama, maravilhada com a
beleza da flor... Beijou-lhe as pétalas suavemente, inalou seu perfume
inefável.
Ordenou ao jardineiro que lhe desse tratamento
especial: o melhor adubo, a água mais fresca.
Quase todo o reino foi chamado a conhecer a flor
encantada, desde os súditos até Sua Majestade, o grande rei. Todos queriam ver
a rosa de que se falavam tão grandes coisas.
Por isso, a jovem mandou chamar a guarda, para que
houvesse sempre um soldado ao lado da flor, evitando que alguém a maltratasse
ou roubasse.
Mesmo assim, muitos curiosos se amontoavam em
torno da flor, observando-a, inalando o seu perfume, apreciando a sua beleza.
Um dia, aborrecida com tantos visitantes, a
princesa dispensou o soldado e aguardou o anoitecer.
Quando a noite estendeu seu manto negro por sobre
o castelo, ela voltou ao jardim e arrancou dali a sua rosa encantada.
Levou-a para seu quarto e plantou-a num vaso de
ouro cravado de gemas de valor, trabalhado pelo mais competente ourives de todo
o reino.
Enfim - pensou a princesa, sorrindo - agora a rosa
é só minha! E passou toda a madrugada acarinhando a flor.
Não recebia criados, amigos, nem mesmo seus
pais...
Estava feliz! Finalmente, a rosa era sua!
Todavia, logo ao cair da tarde daquele dia a flor
começou a apresentar mudanças... Seu perfume alterou-se. Sua cor escureceu.
Suas pétalas enrugaram.
Todas as tentativas para reavivá-la foram em vão.
Na manhã seguinte, a rosa estava morta!
Infeliz, a jovem princesa chorou, tardiamente
arrependida.
* *
* * * * *
* * * * *
Diante da flor amada, fonte de alegrias de nossas
vidas, o ciúme é sempre mau companheiro.
Encantamo-nos com sua beleza, com seu perfume, com
seu sorriso, com seu olhar, mas tentamos policiar-lhe os gestos, os
pensamentos, as atenções.
A beleza das nuvens, o encanto das borboletas, a
perfeição da águia, a graça das estrelas, a formosura das ondas, devem-se à sua
liberdade.
Podemos capturar o pássaro, mas não a alegria do
voo. Podemos armazenar a água, jamais as ondas!
A borboleta, aprisionada, morre!
Aquele que ama o sorriso não exige semblante
fechado.
Vale sempre lembrar a máxima: Quem ama, liberta!
Redação do Momento Espírita, a
partir de adaptação do texto Lenda da rosa encantada, de autoria de Fábio
Azamor.
Disponível no livro Momento Espírita v.4, ed. Fep
Em 6.2.2012.
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